quarta-feira, 7 de maio de 2014

Saúde em Congonhas: um exemplo de caos!

Por PSTU Congonhas.

O tema da saúde tem sido debatido amplamente e divulgado pelos principais meios de comunicação. O motivo? O sistema de saúde em nosso país está um caos e a população coloca sua melhoria como uma de suas principais reivindicações.
Em Congonhas não é diferente. A falta de um hospital decente e o funcionamento adequado do SUS mata e coloca em risco a vida de milhares de pessoas. E para além do descaso com a saúde pública, característica que a prefeitura municipal herda dos governos estadual e federal, o problema é agravado pela relação das grandes mineradoras com a cidade: muita poeira, doenças ocupacionais e nenhum investimento.
De acordo com matéria divulgada pelo jornal Estado de Minas online, no dia 28 de abril, Congonhas apresenta índices de poeira suspensa no ar superior ao limite tolerado pela saúde humana, que é de 50 microgramas/m³, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Somente no bairro Pires, o valor de carga sólida em suspensão chega a 81,3 microgramas/m³. E mesmo nos bairros onde a quantidade de poeira é menor, nenhum apresenta valor menor que 50 µ/m³. Esses números confirmam que a atividade minerária é um dos grandes vilões da saúde na cidade.
Além da mineração, outros graves problemas assolam a população de Congonhas: sucateamento do SUS, falta de um hospital público, precarização e funcionamento via parceria público-privado do Hospital Bom Jesus, falta de investimentos da prefeitura, entre outros.

A quem serve a mineração?
A mineração prejudica os trabalhadores e a população de Congonhas. O que poderia ser tido como um pilar para o desenvolvimento da cidade, acaba por servir apenas aos interesses das grandes empresas em detrimento dos trabalhadores e suas famílias.
Além da grande quantidade de poeira, a atividade da mineração é responsável por várias doenças ocupacionais que atingem grande parcela dos trabalhadores do setor. E como forma predatória da relação com seus funcionários, é comum as empresas demitirem os trabalhadores com problemas de saúde, deixando-os sem recursos para enfrentar um problema surgido no ambiente de trabalho.
Outro aspecto nefasto da relação das mineradoras com a cidade é a pequena parcela de impostos pagos. Fruto de políticas de exoneração fiscal, praticamente nada das riquezas extraídas de nosso solo fica por aqui. A CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) é de apenas 2% (com base no lucro líquido) para o minério de ferro, dos quais 65% ficam no município minerador. Em 2011, Congonhas recebeu apenas R$ 30 milhões com a CFEM. Se os impostos para o setor mineral seguissem os mesmos índices do setor petrolífero, a arrecadação da cidade teria sido de R$ 300 milhões.
Além disso, através da Lei Kandir, as mineradoras são isentas de ICMS para o montante exportado. E para agravar, a maior parte do lucro das empresas ainda é enviado para fora do país, como forma de remuneração dos acionistas que são, em sua maioria, estrangeiros. Ou seja, praticamente nada é investido no nosso país e nos municípios mineradores.
Quando olhamos para os números, temos a exata mostra do descaso das mineradoras com a cidade. Somente em 2013, as duas maiores empresas da região (Vale e CSN) obtiveram lucros exorbitantes. Na CSN, o lucro ultrapassou os R$ 534 milhões. Já a Vale apresentou cifras na ordem dos R$ 10 bilhões, dos quais 7% são originados da produção em Mina de Fábrica, em Congonhas.
Com todo esse dinheiro, seria possível para as empresas investirem em um hospital público e de qualidade na região. Seria possível elas se responsabilizarem pelos trabalhadores com doenças ocupacionais, além de desenvolverem programas de redução da emissão de poeira.

A precarização consciente do SUS e as parcerias público-privadas
A criação do SUS foi uma vitória dos trabalhadores, fruto do ascenso das lutas da década de 1980. O SUS deveria funcionar como instrumento da Seguridade Social, atendendo à população como órgão universal e estatal da saúde pública. No entanto, desde sua criação ele compete com a iniciativa privada, que trata questões de saúde como forma de lucro e não como necessidade humana básica.
Nesse sentido, o governo atua de forma a garantir o lucro do setor privado trabalhando de duas maneiras: a primeira é através da precarização do SUS, que força um setor da população a adquirir planos de saúde privados. O segundo é o constante repasse verbas públicas para instituições privadas.
Atualmente, 25% da população brasileira possui planos de saúde privados, enquanto 75% depende diretamente do SUS (IBGE, 2013).
Desses 75%, parte é atendida em estabelecimentos de saúde privados custeados pelo SUS. Essa relação se dá através de parcerias público-privadas (PPP), em que instituições de saúde tidas como filantrópicas recebem verbas do governo para atender, além dos clientes dos planos de saúde e particular, a população usuária do SUS. No entanto, podemos verificar que mesmo essas instituições filantrópicas atuam como braços dos planos de saúde privados e têm o lucro como objetivo prioritário em relação ao atendimento de qualidade à população.
Isso gera grande oneração aos cofres públicos. Para se ter ideia, de acordo com a Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde (2013), do total de internações realizadas no setor privado de 2000 a 2010, 74,5% foi custeada pelo SUS. Do total dos recursos públicos do SUS destinados aos procedimentos hospitalares de média e alta complexidade, 57% foi destinado à rede privada-filantrópica contratada e apenas 43% à rede pública, no período de 2008 a 2012.
Segundo esse modelo, grande parte do dinheiro gasto com o SUS vai parar nas mãos da iniciativa privada, ao invés de serem investidos em hospitais públicos.

Hospital Bom Jesus: o sanguessuga das verbas públicas de Congonhas não garante bom atendimento à população
Em Congonhas, o exemplo nefasto das parcerias público-privado é o Hospital Bom Jesus (HBJ). Único hospital da cidade, o HBJ recebe verbas do SUS e da prefeitura municipal. No entanto, atende via planos de saúde privados e particular, funcionando como fundação, e não hospital público.
O sucateamento histórico do hospital é prova de como a iniciativa privada é incapaz de prestar bom atendimento à população. Além da falta de médicos e de aparelhagem hospitalar básica, o HBJ não possui UTI neonatal e acumula casos de mortes por atendimento precário. Este ano, por exemplo, um recém-nascido morreu porque não havia médico obstetra de plantão e a maternidade do hospital não realizou o atendimento à mãe.
Os problemas se agravaram a tal ponto que a prefeitura municipal foi obrigada a intervir, municipalizando temporariamente o HBJ desde o dia 10 de abril deste ano. No entanto, até agora a municipalização não significou grandes avanços na melhoria dos serviços prestados. A situação da saúde em Congonhas continua caótica.
A intervenção do poder público parece caminhar com o objetivo de salvar a administração da fundação e depois voltá-la para o controle privado. Mostra disso é que a prefeitura não se propõe a manter de forma definitiva a municipalização, mantém cargos importantes de administração nas mãos das mesmas pessoas, não mudou e nem pretende mudar a relação trabalhista com os funcionários do hospital, não se propõe a abrir novas vagas para trabalhadores através de concurso público, entre outros.

Para mudar a situação da saúde púbica em Congonhas é necessário adotar medidas concretas
Para mudar de verdade as condições de atendimento do SUS e o conjunto do sistema de saúde em Congonhas, é necessário inverter prioridades, colocando a saúde pública e o bem estar da população como eixo central de governo e banir qualquer traço da iniciativa privada do setor.
É necessário seguir em frente e garantir uma municipalização definitiva do hospital e colocar a melhoria no atendimento à população em primeiro lugar. Para isso, é fundamental ampliar os investimentos na saúde e varrer de uma vez por todas o setor privado do HBJ. Também é preciso investir nos postos de saúde e na policlínica, que são suportes fundamentais para o funcionamento do SUS.
Além disso, o trato que o poder público tem com as mineradoras deve mudar. Congonhas não pode funcionar como um simples fornecedor de matérias primas para o capital privado e ficar com todo o ônus dessa atividade. Nesse sentido, entram em cena, além da prefeitura, os governos estadual e federal, que são pilares de sustentação do modelo de concessões para as mineradoras.
Nesse sentido, o PSTU Inconfidentes defende:


ü    Reestatização da Vale e CSN: a riqueza do nosso minério tem que servir ao nosso país.

ü    10% de Royalties (CFEM) sobre o lucro bruto das empresas.

ü    Taxação das exportações: Fim da Lei Kandir.

ü    Construção de um Hospital Público na região, financiado pelas mineradoras.

ü    Valorização dos trabalhadores da mineração, com aumento salarial, expansão dos direitos trabalhistas e PLR proporcional a 8% do lucro.

ü    Investimentos no controle da emissão de poeira nas minas.

ü    Municipalização definitiva do HBJ. Precisamos de um Hospital público de verdade.

ü    Mais investimento na saúde pública: 10% do PIB para a saúde.

ü    Auditoria nas contas do HBJ, para verificar o uso do dinheiro público dos últimos anos.

ü    Valorização dos trabalhadores do HBJ, garantindo estabilidade, aumento salarial, melhorias no ambiente e nas condições de trabalho!

ü    Compra de mais equipamentos para atender a população, entre eles: eletrocardiógrafos, ultrassonografia, tomógrafo, mamógrafo e aparelho de hemodiálise.

ü    Melhoria das condições dos postos de saúde, com equipes médicas e de enfermagem permanente, permitindo o acesso de todos aos cuidados primários e a consultas de saúde materna, infantil e de planejamento familiar.

ü    Criação de UPAs em todos os grandes bairros de Congonhas. Essa medida vai garantir o atendimento e solução de diversos casos que atualmente são encaminhados para o HBJ.

ü    Investimento na maternidade, garantindo a todas as mães o acesso a especialistas e à infraestrutura adequada ao serviço de parto.


ü    Pela participação de representantes dos trabalhadores, eleitos pela base, na comissão administrativa do HBJ, com direito a voz e voto.

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