sexta-feira, 28 de março de 2014

A revolução egípcia e as tarefas da esquerda

O curso da revolução egípcia, sobretudo depois da queda de Morsi e da Irmandade Muçulmana (IM) e chegada do governo controlado diretamente pelo alto comando militar, em julho de 2013, é motivo de polêmica entre a esquerda internacional.
E não poderia ser diferente, já que se trata de um dos processos revolucionários mais importantes no mundo hoje, determinante para o desenvolvimento das revoluções no Norte da África e Oriente Médio.
Além disso, a revolução egípcia insere uma enorme complexidade e contradições que desafiam os esquemas próprios do “sentido comum” e que só podem ser entendidas a partir do marxismo e se compreendemos a fundo o significado da dramática crise de direção revolucionária nesse país e no mundo todo.
As principais interrogantes são: qual foi o significando da derrubada de Morsi-IM? Sua queda foi determinada pela enorme mobilização popular de 30 de junho ou só pelo golpe militar de 3 de julho? Nesse sentido, foi uma vitória ou uma derrota das massas? O golpe militar implicou a “volta ao poder dos militares” ou uma “derrota histórica” que acabou com a revolução? A partir dessa definição, o que significam as mobilizações que a IM vem impulsionando desde julho? Devemos apoiá-las ou seria correto impulsionar uma unidade de ação com a IM “contra a ditadura”?
Em síntese, qual é o caminho para continuar a revolução até sua vitória final, uma revolução que não só liquide a ditadura militar como acabe com a fome, o desemprego, a falta de educação e saúde, faça a reforma agrária e libere o país da opressão das potências estrangeiras, emancipando plenamente a todos os explorados e oprimidos do Egito?
Algumas premissas
Ao analisar o processo revolucionário egípcio, partimos de uma definição fundamental: a queda de Mubarak em fevereiro de 2011 não representou a destruição do regime militar, em pé desde 1952.
No Egito se mantém até hoje um regime ditatorial, que tem como principal instituição as Forças Armadas, que continuam controlando 40% da economia e recebe financiamento direto do imperialismo.
Mas, apesar disso, a queda de Mubarak representou um duro golpe contra a ditadura militar que, devido a força da ação revolucionária das massas, foi obrigado a se relocalizar e fazer uma série de concessões democráticas (começando por “sacrificar” o próprio Mubarak, convocar eleições etc.). Os generais “entregaram os anéis para não perder os dedos”, para salvaguardar a essência do regime. Essa relocalização marca a atuação da cúpula do Exército em todo o processo.
Ao mesmo tempo, a queda de Mubarak deu lugar a todo um período prolongado de enfrentamento aberto entre as classes, com momentos de avanço e retrocesso tanto para a revolução como para a contrarrevolução, mas marcado por essa primeira vitória revolucionária do início de 2011.
Como o regime militar, mesmo estropiado, se manteve, devemos concluir que o governo Morsi não somente foi parte, mas também sustentação dessa ditadura, na medida em que Morsi só pode assumir o poder a partir de um pacto contrarrevolucionário entre a IM e a cúpula do Exército, que garantia a inviolabilidade dos enormes privilégios das Forças Armadas.
Por isso, se o governo Morsi-IM era um governo a mais do mesmo regime militar, a queda de Morsi como produto de uma imensa mobilização popular, apesar da enorme contradição que significou o golpe militar, não foi uma “derrota” (como afirma a maioria da esquerda), mas sim uma imensa vitória democrática das massas, que abriu um novo capítulo na revolução egípcia.
Isso é assim porque, em nossa opinião, dos dois elementos embutidos na queda de Morsi (mobilização de milhões de pessoas e um golpe militar), o elemento determinante foi a mobilização das massas, sem a qual o golpe não teria ocorrido.
Foi essa histórica mobilização das massas que, uma vez mais, obrigou os militares a dar o golpe contra Morsi (“queimar um novo fusível”), para evitar que a ira popular avançasse contra o regime de conjunto.
O povo egípcio, farto das medidas econômicas neoliberais, de submissão ao FMI e a Israel, e avesso ao projeto ditatorial-teocrático que a IM tentou impor durante o mandato de Morsi, encheu as ruas e praças do país para derrubar a quem corretamente chamava o “novo Faraó”. Com isso, derrubaram mais um governo do regime militar, com um duro golpe. Por isso, a queda de Morsi foi uma nova vitória da revolução. 
Mas vem a contradição do processo. Tal como ocorreu na queda de Mubarak, a ação revolucionária das massas “rompeu” o pacto entre os generais e a IM e, ao ver que Morsi não se sustentava e não cumpria mais a tarefa de conter as massas, se relocalizaram econcretizaram sua saída do palácio.
Habilmente, a ditadura egípcia usou uma tática diferente das ditaduras líbia e síria: apesar de ser “seu governo”, o regime não defendeu Morsi, nem optou pelo esmagamento sangrento do movimento de massas.
Com essa manobra, devido ao atraso na consciência das massas e, sobretudo, a falta de uma direção revolucionária, os militares saíram dessa crise, contraditoriamente, com seu prestígio elevado.
A cúpula militar capitalizou a saída de Morsi (assim como capitalizou por um tempo a saída de Mubarak) pois, movidos por seu próprio interesse de autopreservação e sua estratégia de derrotar a revolução, optou por satisfazer a principal reivindicação das massas nesse momento (derrubar Morsi), “usurpando” essa vitória popular.
Por isso, as massas viram erroneamente os militares como “salvadores do povo”; no entender da maioria, eles não só ficaram do “lado do povo” contra Morsi, como, com o golpe, também evitaram confrontos sangrentos, como ocorre na guerra civil na Síria.
A IM se negou a aceitar a derrota e passou a chamar a mobilização para retornar ao poder, alegando que Morsi continuava sendo o “presidente legítimo”. Qual o caráter dessas mobilizações e qual deve ser a posição dos revolucionários frente a elas?
Se a queda de Morsi foi uma vitória da ação revolucionária das massas, as mobilizações da IM pela volta de Morsi ao poder só podem ser contrarrevolucionárias.
Portanto, os marxistas não podem apoiar ou participar dessas manifestações e tampouco defender qualquer direito ou liberdade democrática para que o setor derrotado da contrarrevolução (Morsi e a IM) se organize e se expresse “livremente” para passar por cima de uma conquista das massas. O mesmo se Mubarak tivesse chamado seus seguidores a mobilizar-se por seu retorno, quando foi derrubado pelas massas.
Após a saída de Morsi, a ampla maioria das forças burguesas, as direções sindicais e ditas de esquerda aderiram ao novo governo títere dos militares, aceitando inclusive cargos no ministério, como Kamal Abu Eita, ex-presidente da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes (EFITU), passando a colaborar com o regime.
Frente a essa capitulação, foi necessário apresentar uma alternativa de oposição frontal ao regime e ao novo governo que, ao mesmo tempo, não se confundisse forma alguma com o plano da IM de voltar ao poder.
Por isso, foi sumamente progressivo o surgimento do chamado “terceiro campo” independente, que se expressa mais concretamente na Frente Caminho da Revolução [1], que levanta a bandeira Nem militares nem Irmandade!
No marco dessa localização geral do “terceiro campo”, os marxistas deverão ser o polo mais consequente no enfrentamento com a ditadura, combatendo ao mesmo tempo as tentativas contrarrevolucionárias da IM para voltar ao poder e explicando pacientemente às massas a necessidade da tomada do poder pela classe operária e a construção do socialismo como saída estratégica para a crise.
“Derrota histórica” e fim da revolução?
A partir dessas premissas, podemos concluir que os militares não “voltaram ao poder” com o golpe de julho passado, pela simples razão de que mantêm o poder desde 1952.
Por outro lado, tampouco é correto, como afirma a maior parte da imprensa internacional e a esquerda, que com o golpe “a revolução acabou” ou, no mínimo, “retrocedeu-se ao regime de Mubarak”.
O que esses setores não compreendem é o signo geral do processo revolucionário de conjunto, que não é de “derrota”, mas está marcado por duas enormes vitórias revolucionárias das massas (a saída de Mubarak e a de Morsi). Toda revolução passa por momentos de avanço e retrocesso. Em toda revolução atua, inevitavelmente, a contrarrevolução. Mas no caso do Egito, a contrarrevolução ainda se move no marco de uma revolução poderosa e em pleno desenrolar.
É verdade que depois da subida de Al Sisi-Beblawi abriu-se uma situação defensiva e ocorreu um descenso das lutas sociais. Segundo o Centro Egípcio para os Direitos Sociais e Econômicos, em 2013 ocorreram 2.486 protestos, que superaram os 1.300 de 2011, mas foram inferiores às impressionantes 3.300 de 2012.
A maioria dos protestos de 2013 ocorreu durante o governo Morsi (2.243), o que demonstra o ódio generalizado que esse governo despertou nas massas. Depois da subida de Al Sisi-Beblawi (julho a dezembro de 2013) ocorreram apenas 243 protestos, o que indica um refluxo importante, um momento defensivo [2].
Mas o mais importante é determinar as causas desse refluxo e sua profundidade. Muitos setores de esquerda afirmam que a suposta “derrota” ou o “retrocesso” da revolução se deve, fundamentalmente, a que a cúpula militar, com o golpe, não só “voltou ao poder” como aplicou uma política de esmagamento físico da revolução, de repressão generalizada e indiscriminada contra todo o movimento de massas, igualando o golpe militar no Egito com os de Pinochet e Videla.
Mas os fatos foram demonstrando que isso não é assim. Em primeiro lugar, porque a revolução continua, com novos fatos que assim o demonstram. Em segundo lugar, diante dessa realidade, a política central do regime militar para derrotar a revolução não é o confronto aberto, físico, com o movimento de massas de conjunto (apesar das medidas bonapartistas), mas uma política de engano, de fazer concessões democráticas e utilizar os mecanismos da democracia burguesa (referendo, eleições etc.).
Alguns poderiam perguntar: e a repressão e os massacres contra a IM? E a prisão de Morsi e ilegalização da IM? E as prisões contra os ativistas independentes do Movimento 6 de Abril ou membros dos Socialistas Revolucionários?
É verdade que o aparato de segurança segue reprimindo, mas o caráter da repressão não égeneralizado e sim seletivo.
A repressão mais violenta da ditadura se centra na IM e, apesar de querer ampliá-la a todo o movimento de massas a partir dessa “campanha contra o terror”, se demonstra que não tem condições, não tem correlação de forças suficiente para tal empresa, pois a situação revolucionária aberta com a saída de Mubarak não se fechou.
Nesse sentido, a destituição de Morsi e sua prisão, assim como a repressão e ilegalização da IM, não podem ser consideradas como uma “repressão sangrenta contra a revolução” (a não ser que se considere a HM como "parte da revolução"), mas sim como concessões que os militares se viram obrigados a fazer “para não perder os dedos”.
Quando o regime reprime a IM, o faz com uma margem de aceitação que não tem no momento de reprimir os outros setores. Ao mesmo tempo, utiliza a repressão contra a IM para consolidar-se, pois a prisão de Morsi e a repressão à IM contam com o apoio de setores majoritários das massas, justamente porque são odiados e foram derrotados pelo povo.
Daí que o regime militar pode fazer massacres e ilegalizar a IM quase sem reação popular, salvo, obviamente, a que provém da própria IM.
É evidente que a ditadura tenta utilizar a repressão contra a IM para estendê-la a todo o povo, por exemplo, tentando acusar a todos os dissidentes de “ajudar os terroristas”, mas até o momento, não conseguiram concretizar isso.
Portanto, a repressão contra os ativistas independentes identificados com o “terceiro campo” ou aqueles setores que saem a lutar, como veremos, não tem ponto de comparação com o grau de repressão que o regime exerce contra a IM.
Por isso, impossibilitado de afogar em sangue a revolução, os militares apostam suas fichas a manipular as ilusões democráticas das massas. Nesse sentido, impulsionaram o referendo constitucional de janeiro deste ano e preparam as eleições presidenciais para abril, nas quais é muito provável a candidatura do agora marechal Al Sisi.
Mas tampouco nesse terreno as coisas marcham exatamente como os generais gostariam. No referendo constitucional, o projeto do governo superou a marca de 98% de aprovação (algo muito comum em uma ditadura). Mas esse referendo teve uma fraca participação de 37% (só 4 pontos acima do referendo de Morsi em dezembro de 2012), quando os militares esperavam chegar a 80% [3]. Isso demonstrou que, se bem é inegável que amplos setores de massas continuam confiando nos generais, esse respaldo começa a ser questionado.
Em síntese, frente ao fato de que a revolução não foi derrotada (o que não significa que não possa passar por situações defensivas), o regime militar (o mesmo desde 1952) não tem condições de “esmagar” o movimento de conjunto (ou ao menos não optou por fazê-lo) mas se lança a “desviar” o processo com o engano (confiança em Al Sisi, “o salvador da nação”) e o caminho morto das eleições burguesas.
O movimento operário entra em cena
Há dois meses começou a mudar a correlação de forças, desfavorável para a revolução, que se manifestou durante o segundo semestre de 2013. Esse ascenso operário foi um fator importante na renúncia do ex-primeiro ministro Hazem el Beblawi e todo seu gabinete, entre eles Kamal Abu Eita, o ex-presidente da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes (EFITU) que aceitou ser ministro do trabalho depois do golpe e agora é visto como um colaborador do governo. O apoio ao governo de Beblawi, segundo pesquisas, havia caído a menos de 25% [4].
As lutas operárias começaram em 10 de fevereiro no complexo industrial têxtil de Mahalla, onde trabalham mais de 60.000 operários e é um símbolo da revolução. Essa greve foi precedida por greves dos trabalhadores do ferro e aço, em Alexandria e Suez [5].
Em Mahalla, mais de 20 mil operários, sobretudo das empresas Mirs Spinning and Weaving e Helwan Spinning and Weaving, exigiram o pagamento de uma série de bonificações atrasadas e o salário mínimo de 1.200 libras egípcias (170 dólares), sendo que muitos trabalhadores ganham cerca de 70 dólares. Também lutaram pela destituição de Fouad Abdel-Alim, um odiado gerente do governo que administra as indústrias da zona. Entre suas bandeiras também estava a luta contra os planos de privatização da empresa, que ainda é estatal.
A ditadura, apesar de suas ameaças, não pode reprimir a greve; teve de engolir sua “lei antiprotestos” e, depois de várias propostas recusadas pelos grevistas, desembolsou 516 milhões de libras egípcias para pagar os salários e as bonificações atrasadas. Os operários de Mahalla, depois dessas conquistas, suspenderam a greve em 22 de fevereiro, mas deram um “prazo” de 60 dias para que o governo cumpra as demais reivindicações dos trabalhadores.
A luta de Mahalla foi se expandindo pelo país e a bandeira do salário mínimo de 1.200 libras egípcias tornou-se nacional, unificando as lutas de diversos setores de trabalhadores. A questão é que o governo, para acalmar um pouco o crescente descontentamento por causa da inflação, anunciou o aumento do salário mínimo a 1.200 LE para um terço dos funcionários do Estado, promessa que não cumpriu. Com isso, desatou a fúria desse setor e estimulou todos os demais setores, públicos e privados, a exigir o mesmo reajuste.
Ocorreram greves de motoristas no setor de transporte público no Cairo e em Alexandria por essa reivindicação. Cerca de 42.000 trabalhadores pararam as 28 garagens de ônibus do Grande Cairo, obrigando o Exército a “cobrir” o serviço. Exigiam também importantes investimentos para renovar a obsoleta frota de ônibus por motivos de segurança. O governo, ao invés de reprimir, teve de negociar e prometeu investir 15,2 milhões de LE, mas os grevistas consideraram a quantia insuficiente e continuaram em greve até 27 de fevereiro.
A greve dos motoristas, que segundo o governador do Cairo, Galal al-Saeed, custou a seu governo 115.000 dólares por dia [6], terminou com uma conquista parcial correspondente a um aumento de 30 dólares. Mas o descontentamento continua: “Nos prometeram um salário mínimo e agora dizem que isso não se aplica a nossa empresa”, disse o motorista Reda Abdel Kerim. “O comércio já remarcou os preços, quando o governo disse que aumentaria os salários. O governo nos enganou”, disse um grevista [7].
Depois vieram as greves dos correios, dos policiais rasos e do setor da saúde, que parou por salários, condições de trabalho e aumento do orçamento para a saúde pública. A greve do “pessoal de branco” teve uma adesão de 87%[8]e se configurou uma ampla unidade entre médicos, enfermeiras, dentistas, farmacêuticos, veterinários e outros.
Para se ter uma ideia da magnitude do processo, o Centro Egípcio para os Direitos Humanos registrou 54 greves e atos desde o início de 2014, que envolveram cerca de 100.000 trabalhadores [9], algo muito positivo para mudar o signo da situação, pela entrada em cena da classe trabalhadora organizada no processo posterior a julho.
Para entender o descontentamento que existe “por baixo”, é interessante a declaração de Hoda Kamel, da EFITU: “Durante os últimos seis meses, o povo estava esperando que este governo fosse o governo da revolução, como havia prometido (…) Mas quando veio janeiro, as pessoas se deram conta de que era um engano, porque o salário mínimo era só para uma parte muito pequena de pessoas que trabalham no governo, não para o setor privado ou a maioria dos trabalhadores do governo” [10].
O descontentamento com o regime e suas prioridades começa a expressar-se, dando um tom mais político aos protestos: “Por que o Ministério do Interior recebe um aumento de 30 por cento, e [também] o Exército”, perguntou Adel Sayed, um trabalhador administrativo da empresa de ônibus, citado pelo Financial Times. “Quer dizer que este país é só do Exército e da polícia?” [11]
A onda de greves operárias também teve a característica progressiva de haver passado por cima da direção traidora ligada ao regime desde os tempos de Mubarak, a Federação Egípcia de Sindicatos (EFTU), cujo presidente, Gebaly al-Maraghy​, repetia aos trabalhadores o discurso do governo: “Nossa batalha é para aumentar a produção e combater o terrorismo. Se não ganhamos, se destruirá a totalidade do Egito” [12].
Além disso, a luta trouxe consigo um incipiente processo de reorganização e unidade sindical. Formou-se um novo comitê coordenador das lutas, que agrupou trabalhadores em greve de nove empresas e representantes das greves de médicos, além dos membros dos sindicatos independentes da aviação civil, correio e os ferroviários. [13]
Frente a isso, o governo de Beblawi e o novo primeiro ministro, Ibrahim Mehleb demonstraram as limitações do regime militar para reprimir setores que não são da IM.
O governo simplesmente não podia cercar as fábricas de Mahalla com o Exército e massacrar entre mil e dois mil operários, como fez com os acampamentos da IM no Cairo em agosto último. Uma repressão assim teria consequências nefastas, a ponto de detonar uma nova explosão contra o próprio regime justamente porque a revolução continua.
Por isso, tiveram de aplicar uma política de negociação e concessões, ao mesmo tempo em que faziam apelos gerais ao “patriotismo” ou frases de Mehleb do tipo: “Deixemos todo tipo de atos, protestos e greves. Comecemos a construir a nação” [14]. Al Sisi, o “homem forte” do regime, teve de dizer que “entendia” as exigências dos operários, evitando chocar-se com esse setor pouco antes das eleições.
Construir uma alternativa operária e independente contra a ditadura militar e contra a Irmandade!
1. A esquerda revolucionária deve partir de que a revolução não foi “derrotada”, mas continuará, com seus fluxos e refluxos, por um longo período. Porque os problemas estruturais que motivaram o início da revolução, tanto de cunho econômico como as legítimas aspirações democráticas das massas, não foram e nem poderão ser resolvidas pela ditadura militar egípcia e seus governos.
A situação econômica, marcada por 30% de desemprego e 40% da população sobrevivendo com um dólar por dia, se agrava com o correr do tempo. Desde o início do ano aumentaram os cortes de energia e a escassez de combustível, situação particularmente irritante para as massas. Os milionários empréstimos e doações das monarquias aliadas do Golfo só serviram para evitar o colapso financeiro imediato. O governo, nesse marco, não poderá evitar aprofundar o ataque, como estabelecer o fim do subsídio aos combustíveis, uma medida que esteve na base do descontentamento que derrubou Morsi.
Nesse sentido, o engano e a confusão após a usurpação da vitória popular que derrubou Morsi por parte da cúpula militar começam a mostrar seus limites.
2. A onda de greves operárias, além de ser um fato extremamente progressivo para a revolução, augura novos enfrentamentos e crises maiores, que encontrarão os militares à frente do governo (o que pode acelerar uma experiência das massas com o mesmo), sem muitos “fusíveis” mais e quase sem margem econômica para satisfazer as demandas pelas quais o povo egípcio já protagonizou dois grandes capítulos de sua revolução.
3. Assim, é possível que a situação de refluxo aberta após o golpe de julho comece a mudar favoravelmente para a classe operária e o povo.
4. No entanto, é importante ter claro que o nível das lutas atuais ainda não chegou ao ponto de colocar em risco o regime, apesar do clima de “unidade nacional” que seguiu ao golpe começar a esfriar. Por outro lado, Al Sisi mantém o apoio de setores de massas e é altamente provável que ganhe as eleições. Nesse sentido, a ausência de uma direção revolucionária no processo é o principal flanco de ataque da contrarrevolução, tanto aquela representada pelo governo como a representada pela Irmandade.
5.  Nesse marco, é fundamental que todos os setores que estejam protagonizando lutas contra o governo e o regime militar, especialmente o movimento operário de Mahalla, os motoristas, os trabalhadores da saúde, os novos comitês operários que vêm surgindo por setor, assim como os membros da Frente Caminho da Revolução e todo o “terceiro campo” em geral, discutam um plano de luta nacional em um amplo encontro intersetorial, e coordenem suas ações para derrotar nas ruas os planos econômicos e repressivos de Al Sisi e os generais egípcios.
É preciso unificar as lutas econômicas e democráticas, retomando a grande bandeira da revolução: “Pão, Liberdade e Justiça Social”, e avançar contra a política do governo títere dos militares e as ações contrarrevolucionárias da IM, que continua reivindicando a volta do “Faraó” derrotado pelo povo.
A partir dessa localização no processo revolucionário e com essa política, o movimento operário, com suas greves e incipiente reorganização, deve se colocar à cabeça da luta contra a ditadura militar, mostrando o caminho aos demais setores explorados e oprimidos.
O movimento operário também deve liderar os esforços por construir uma alternativa classista contra o governo e a Irmandade para as próximas eleições presidenciais.
Nesse processo eleitoral será muito importante disputar a consciência dos trabalhadores e da vanguarda que derrotaram Mubarak e Morsi, apresentando uma alternativa independente e postulando candidaturas de operários e lutadores/as sociais identificados com a revolução, sobretudo aqueles que dirigem greves e enfrentam a ditadura, contra a quase segura postulação de Al Sisi e qualquer outra expressão burguesa.
A bandeira que unifica essa luta é justamente Nem militares, nem Irmandade!, que é altamente positiva pois expressa um repúdio às historicamente duas grandes forças políticas contrarrevolucionárias.
A isto se deve agregar a necessidade de lutar por uma alternativa classista e socialista com um programa de destruição do regime militar e por um governo operário e popular, o que não significa outra coisa que levantar a necessidade imperiosa e vital de construir um partido revolucionário, operário e internacionalista no Egito.
Tradução: Cecília Toledo
[1] A Frente Caminho da Revolução nasceu em setembro de 2013. Seu eixo é a luta “contra os militares e a IM” e pelas bandeiras clássicas da revolução “Pão, Liberdade e Justiça Social”. Está integrada pelo Movimento 6 de abril, os Socialistas Revolucionários, o Movimento NÃO aos tribunais militares, entre outros grupos e indivíduos da vanguarda independente que participou das lutas contra Mubarak e Morsi.
[2] http://www.dailynewsegypt.com/2013/12/31/year-in-review-2013-workers-hold-2486-protests/
[3] http://socialistworker.co.uk/
[4] http://internacional.elpais.com/internacional/2014/02/24/actualidad/1393241202_254194.html
[5] http://socialistworker.co.uk
[6] http://www.al-monitor.com/pulse/originals/2014/02/egypt-strikes-mahalla-workers-mehleb.html
[7] http://www.ft.com/intl/cms/s/0/bf47558e-9fb8-11e3-b6c7-00144feab7de.html
[8] https://socialistworker.co.uk
[9] Ídem.
[10] http://www.theguardian.com/world/2014/feb/27/egyptian-army-runs-cairo-buses-strikes-minimum-wage
[11] http://www.ft.com/intl/cms/s/0/bf47558e-9fb8-11e3-b6c7-00144feab7de.html
[12] http://www.al-monitor.com/pulse/originals/2014/02/egypt-strikes-mahalla-workers-mehleb.html#
[13] http://madamasr.com/content/workers-unite-against-new-government
[14] http://www.foxnews.com/world/2014/03/02/egypt-new-prime-minister-urges-end-to-strikes-protests-says-it-time-for-work/

domingo, 23 de março de 2014

Abertura do I Encontro de Negras e Negros da CSP-Conlutas se transforma em ato de resistência ao racismo

Com o tradicional lema da África do Sul, “Amandlha, aweto”, ou “o poder é nosso”, encontro emociona

A abertura do I Encontro Nacional de Negras e Negros da CSP-Conlutas, realizada na noite de 21 de março, dia internacional de luta contra o racismo, tornou-se um grande ato de luta e homenagem ao povo negro, contra o racismo e a exploração. Além do combate ao racismo, a abertura do encontro que se estende por todo o domingo próximo, debateu as mobilizações durante a Copa sob o prisma da questão racial.
O ato que reuniu algo como 400 pessoas em seu auge reuniu dirigentes sindicais e do movimento negro, incluindo dois sul-africanos que participaram das mobilizações contra as injustiças da Copa em seus países. O sindicalista Hlokoza Motau e o estudante Thando Manzi compartilharam suas experiências e falaram sobre as diversas similaridades existentes entre a luta do povo sul-africano contra o racismo e o do povo negro no Brasil.
Thando iniciou a sua fala reproduzindo um grito tradicional durante os protestos na África do Sul. Ao grito de "amandlha", que significa "poder", todos respondem "aweto", ou "é nosso". Assim, aos gritos de "amandlha" e "aweto", "o poder é nosso", o estudante sul-africano iniciou sua fala relatando a situação de seu país que, 18 após o fim do apartheid, continua marcado pelo racismo. "Existe uma separação racial e até geográfica, com lugares só para negros e outros só para brancos, escola para brancos, restaurantes", disse. O estudante citou a composição de uma empresa aérea no país, no qual 85% dos pilotos são brancos e apenas 15% negros.
Para Thando, "Brasil e África do Sul tem muito em comum, como a desigualdade social e o racismo". O estudante destaca que o domínio das empresas multinacionais e as políticas neoliberais, tanto no Brasil como em seu país, reforçam o racismo, a exclusão social e o machismo. "Em meu país, as mulheres negras estão perdendo seus empregos, pois os principais locais em que trabalham, as pequenas fábricas, estão fechando porque agora tudo se importa da China", exemplifica. Ele citou ainda os altos índices de estupro e feminicídio, sobretudo de mulheres lésbicas.
Um outro paralelo que o sul-africano traçou entre Brasil e África do Sul, foi o quanto a Fifa ganhou com a Copa, enquanto serviços públicos como a educação sofriam com o descasço. "Enquanto o governo sul-africano encheu os bolsos da Fifa durante a Copa, as nossas escolas tinham um dos piores índices do mundo", relatou.
"Brasil, África, América Central/A luta do povo negro é internacional!"

Hlokoza Motau, sindicalista da NUMSA, começou seu discurso explicando o massacre de Shaperville, em 1969, no qual os negros se revoltaram contra o passaporte obrigatório na época para se ir de um lugar a outro dentro do próprio país. "Eu cresci sob esse sistema, nos faziam acreditar que éramos inferiores aos brancos e a ter medo deles", relata. "Mas Shaperville nos deu coragem para resistir, começamos a nos organizar para resistir á opressão", disse. "Começamos a levar a luta para as fábricas, transformamos as prisões em grandes centros de educação e formação política e os funerais em atos de formação política de massas", contou.
Motau contou ainda como a exploração e a opressão combinavam-se para aumentar os lucros dos grandes donos das minas. "Quem instituía esse passaporte eram os donos das minas, para poderem superexplorar os trabalhadores". Para o sindicalista, "o apartheid acabou, mas o sistema que o gerou continua existindo, se não esmagar o capitalismo, esse sistema opressor seguirá existindo". Hlokoza compartilhou a experiência do NUMSA, que convocou uma frente única contra o neoliberalismo e como se está organizando um "movimento pró-socialismo". "Não temos nenhum desejo de apoiar um partido da burguesia", disse, referindo-se nesse meio o CNA (Congresso Nacional Africano), que está hoje no poder. "Estou muito feliz por hoje, pois percebo que estamos trilhando o mesmo caminho", disse, sendo efusivamente aplaudido.
Racismo e a opressão à mulher
Vera Rosane, do Movimento Mulheres em Luta e do Quilombo Raça e Classe trouxe um depoimento e uma fala emocionantes, relatando a dupla opressão que atinge as mulheres negras. Ela lembrou do caso de Cláudia, morta e arrastada pela polícia do Rio no último dia 17. "Nós, mulheres negras, vivemos um requinte de crueldade do Estado", disse. "No império, existíamos para satisfazer e servir aos senhores, hoje continuamos no mesmo lugar", afirmou, colocando que 99% das empregadas domésticas são negras. No entanto, se há opressão, também há resistência, como demonstrou a greve dos garis, lembrada por Vera. "Quando a senzala se levanta, não fica pedra sobre pedra, como os companheiros garis mostraram", disse.
Wilson Silva, do Quilombo Raça e Classe também trouxe um depoimento emocionante. Ele relatou como a luta dos negros sul-africanos está intimamente relacionada com a dos negros no Brasil. "O primeiro ato público que fui na minha vida foi quando tinha 14 anos e ocorreu o massacre de Shaperville, e fomos na embaixada da África do Sul", relatou. Wilson comparou ainda o atual governo do país africano, encabeçado pelo CNA (o partido de Mandela) e a Cosatu, a principal central sindical, e o Brasil, com o governo do PT. Ambos tiveram suas histórias ligadas à luta da classe trabalhadora mas que hoje aplicam uma política econômica neoliberal.
O representante do Quilombo comparou ainda o massacre de Marikana que ocorreu em 2012 e vitimou 34 trabalhadores, e o massacre diário ocorrido contra os jovens negros da periferia. "Se o capitalismo mata, o neoliberalismo massacra", afirmou. "Mas junho bateu forte em negras e negros, que foram aos milhares às ruas", lembrou, reforçando que "infelizmente eles não estavam organizados e esse é o nosso objetivo aqui: oferecer uma alternativa de luta aos negros e negras desse país", disse, sendo muito aplaudido.
Após a abertura simbólica do I Encontro de Negras e Negros da CSP-Conlutas, o encontro em si continua no próximo domingo, dia 23. Mais de mil pessoas de todo o país já se inscreveram nesse que promete ser um importante momento na organização do movimento negro. Nesse dia 22 ocorre o Encontro “Na Copa Vai ter Luta” cujo objetivo é o de articular mobilizações durante os jogos do Mundial.

Fonte: PSTU Nacional.

8ª Assembleia Nacional da ANEL reúne mil estudantes e discute calendário de lutas


Fotos: Rodrigo Barrenechea e Romerito Pontes
Cerca de mil estudantes de 23 estados do Brasil reuniram-se nesse 21 de março para a 8ª Assembleia Nacional da ANEL. O evento aconteceu na Tenda Ortega y Gasset, na USP Butantã, em São Paulo. O número de participantes superou, em muito, as expectativas da organização, que esperava cerca de 600 pessoas.
A mesa de abertura, com o tema "Copa para quem? Brasil com direitos, saúde e educação", contou com a participação de representantes da CSP-Conlutas, Movimento Mulheres em Luta, ANDES, Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, Movimento Luta Popular, Juventude às Ruas, além de Henrique Carneiro e Claudia Moraes, professores da USP e UNIFESP, respectivamente.
A mesa também teve a presença especial de Thando Mansi, ativista da África do Sul, que fez uma exposição sobre todos os problemas que foram enfrentados em seu país durante a realização da Copa, a exemplo das remoções de famílias que moravam em favelas próximas aos estádios, aumento do desemprego e etc. "Na África do Sul, a grande questão colocada era: quem ganha com a Copa do Mundo, o povo ou a FIFA? Hoje, essa é a mesma questão que está colocada para os brasileiros", destacou.
Ainda na abertura, ativistas dos movimentos Levante Popular da Juventude, Território Livre, RUA - Juventude Anticapitalista, e da FENET, que não constroem a ANEL, fizeram saudações à Assembleia e ressaltaram a importância do espaço para a construção de um movimento unificado em torno das pautas da esquerda.

A plenária final da Assembleia Nacional votou um calendário de lutas e campanhas para o próximo período. A principal campanha nacional a ser tocada pela entidade é “Na Copa vai ter luta!”, denunciando o repasse de verbas públicas para FIFA e empreiteiras, enquanto faltam verbas para educação, saúde, transporte, moradia, etc. A campanha será construída em conjunto com os parceiros do Encontro do Espaço de Unidade de Ação.
Ao fim, a 8ª Assembleia Nacional aprovou sua nova Comissão Executiva Nacional, com representantes de quase todos os estados presentes. A vitoriosa assembleia terminou com um coro de quase mil estudantes: "Não sou capacho do governo federal, sou estudante livre da Assembleia Nacional".
Fonte: PSTU Nacional

Perseguido, Encontro "Na Copa Vai ter Luta" reúne 2,5 mil em São Paulo

Encontro reúne representantes de entidades sindicais e dos movimentos sociais e populares e estudantis

Bem que tentaram. Nos dias finais de preparação para o Encontro do Espaço Unidade de Ação, "Na Copa Vai ter Luta", que seria originalmente realizado na quadra da Mancha Verde, a polícia civil, a Federação Paulista de Futebol e uma série de autoridades passaram a pressionar a direção da escola para impedir a realização do evento. A revista Veja chegou a publicar uma nota afirmando que "PSTU, Black Blocs e a torcida da Mancha Verde" estariam preparando um encontro para praticar atos de vandalismo durante a Copa. Mas toda essa campanha de estigmatização e criminalização do evento não impediram que o encontro reunisse milhares de pessoas na quadra do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
Mesmo bastante apertados no espaço improvisado, os ativistas vindos de várias partes do país não desanimaram e discutiram as mobilizações que devem sacudir o país durante a realização dos jogos. Além das entidades que compõem o Espaço Unidade de Ação, como a CSP-Conlutas, a maioria da direção da Condsef, Feraesp (Federação dos Trabalhadores Assalariados Rurais do estado de São Paulo), corrente "CUT Pode Mais", o encontro contou com a participação de representantes dos garis do Rio, que protagonizaram uma heroica greve e de operários em greve do Comperj, a refinaria da Petrobrás em Itaboraí (RJ).
"Fizeram de tudo para que esse encontro não acontecesse, mas a nossa unidade superou a criminalização, a burguesia não quer a unidade da classe trabalhadora", afirmou Rejane Alves, da CUT Pode Mais. Gaúcha, Rejane falou sobre o processo de criminalização que atinge os ativistas de Porto Alegre e apontou a necessidade de se aprofundar a unidade e a independência da classe trabalhadora. "Havia antes dois caminhos: a destruição ou a cooptação; mas nós construímos um terceiro caminho, que é o da organização, autonomia e da luta", disse.
Sentimento de unidade que foi reafirmado por Antônio Bispo, da Feraesp. "Estou aqui para construir a unidade e um projeto que realmente liberte a classe", afirmou. Ele denunciou a farsa da reforma agrária do governo Dilma, que chamou de "migalha agrária". Já Sérgio Ronaldo, da Condsef, que reúne os sindicatos dos servidores federais dos estados, deu uma boa notícia à plenária. "A partir de agora não pode mais se referir à 'maioria da Condsef' ao se referir ao Espaço Unidade de Ação, mas à Condsef como um todo, pois aprovamos nossa incorporação no último Congresso".

Numa fala carregada de emoção, um representante dos garis do Rio, Célio, relatou os momentos de tensão durante a dura negociação com a patronal, quando descobriu a solidariedade massiva que cercava o movimento. "Foi ali, no prédio da Justiça do Trabalho, que descobrimos que a nossa luta não era só nossa, dos garis, mas de todos os movimentos sociais, eu não podia 'arregar' naquele momento", disse, denunciando ainda a repressão e o autoritarismo que se abateu contra os trabalhadores em greve. "Vivemos numa democracia disfarçada, que por trás se esconde uma verdadeira ditadura", afirmou. Após a fala dos garis, o plenária entoou "Gari/ Escuta/A sua luta é também a nossa luta".
Representantes da greve do Comperj relataram a verdadeira rebelião de base que tomou os canteiros de obras da refinaria em Itaboraí. "Os operários queimaram o carro da CUT, porque ela não representa mais os trabalhadores, no outro dia mandaram motoqueiros armados que atiraram contra nós e atingiram dois companheiros", relatou um dos operários. "Essa greve não é só por 15% de aumento, mas para mostrar para Dilma que quem manda é a classe operária", afirmou. Os operários do complexo realizavam uma greve que durava mais de 40 dias. O sindicato tentou uma manobra, divulgando que a patronal havia aceitado uma proposta que nunca havia sido realizada. Quando os trabalhadores souberam, retomaram a greve com ainda mais força.
A dirigente do PSOL, Luciana Genro, do Movimento de Esquerda Socialista (MES), por sua vez, tornou público ao plenário a decisão da corrente de se integrar à CSP-Conlutas e falou sobre o processo de reorganização e o impacto de junho. "As jornadas de junho, com seu levante popular e estudantil não foi qualquer coisa, foi a primeira vez na história que uma direção política não teve controle sobre um movimento social tão importante", contou. "Cabe a nós construir uma alternativa", defendeu.
José Maria de Almeida, o Zé Maria, presidente nacional do PSTU, falou sobre a perseguição que atingiu a organização do encontro. "Muitos vieram perguntar se o que aconteceu não foi um exagero deles, e eu digo não, companheiros", afirmou, relatando o crescente processo de criminalização das lutas e do aumento da exploração capitalista como forma de dar uma solução à crise aberta em 2008. Pré-candidato do PSTU à presidência, Zé Maria falou sobre o debate eleitoral e como a imprensa reduz as questões a esse único debate, reforçando que "aqui estamos construindo um outro caminho, porque sabemos que a solução não está nas eleições, mas nas ruas". Zé Maria defendeu "a construção de um outro junho, se possível igual ou maior ao do ano passado".
Após o debate que contou também com a participação das entidades estudantis ANEL e o Juntos!, os participantes do encontro realizaram breve ato público que parou a Radial Leste por cerca de meia hora. Após a manifestação, os participantes ainda tiveram forças para se reunir em grupos temáticos que discutiram, entre outros temas, as opressões, a criminalização dos movimentos sociais, a educação pública e os serviços públicos de forma geral. Ao final, o plenário apontou um calendário de lutas que prevê, entre outras datas, mobilizações nacionais para o dia 12 de junho, dia de estreia da Copa do Mundo.

Fonte: PSTU Nacional

terça-feira, 18 de março de 2014

Na Copa vai ter luta! Todos ao Encontro Nacional do Espaço Unidade de Ação!

Em meio às greves e mobilizações da classe trabalhadora da cidade e do campo, da luta do movimento popular e dos protestos contra os gastos da Copa, será realizado, no dia 22 em São Paulo, um Encontro Nacional para unificar as lutas. O encontro ganha adesões e atraem setores que desejam organizar a luta durante a realização do mundial no Brasil. A atual situação do país exige a unidade das diversas lutas dos trabalhadores e da juventude para superar a dispersão. Por outro lado, a vitoriosa greve dos garis do Rio de Janeiro foi um exemplo para todos os trabalhadores. Provou que, apesar da repressão, é possível lutar, é possível vencer

A situação do país está cada vez marcada por uma crescente insatisfação. Afinal, nenhuma das demandas populares de junho passado foi atendida pelos governos. Enquanto isso, a repressão do governo Dilma (PT) e dos governos estaduais do PSDB, PMDB e outros partidos, vai aumentando com a aproximação da Copa, o que cria uma polarização crescente no país. 
Na economia as contradições vão aumentando lentamente. Não há perspectivas imediatas de crise econômica, mas pouco a pouco a economia apresenta muitos problemas.
O governo Dilma faz mais e mais concessões ao capital financeiro, e nenhuma para os trabalhadores e o povo pobre. Dilma cortou R$ 44 bilhões do Orçamento para pagar a dívida aos banqueiros, o que vai afetar os gastos sociais em serviços públicos. A reforma agrária está paralisada. A burguesia, com o apoio do governo, endurece cada vez mais as negociações salariais para buscar manter sua taxa de lucros.
As manifestações brutais de opressão crescem a cada dia como reação contra as lutas e as conquistas das mulheres, negros e homossexuais. Cenas grotescas de machismo, racismo e homofobia devem ser respondidas pelos trabalhadores com todo o repúdio.
A unidade burguesa ao redor do governo começa a dar sinais também de desgaste. O ano eleitoral leva a oposição burguesa a criticar cada passo do governo. Mesmo na base governista, os atritos se ampliam por mais espaço nos ministérios. O enfrentamento entre PT e PMDB é um exemplo desse desgaste.
A insatisfação está cada vez maior ainda nesse início de ano. As pesquisas eleitorais indicam uma vitória do PT talvez no primeiro turno, mas o governo está em alerta. A popularidade de Dilma caiu 4% entre dezembro e fevereiro, em um momento em que as pessoas em geral ficam mais felizes pelo 13º salário e pelas férias. O apoio a Dilma é menor nas capitais, nas regiões mais industrializadas e junto aos mais jovens.
As próximas pesquisas serão importantes para Dilma. Caso sua popularidade se estabilize, o governo pode encarar o período crítico da Copa com mais tranquilidade. Caso siga o declínio podem vir crises maiores.
O governo Dilma quer impedir de qualquer jeito as grandes mobilizações durante a Copa. Está fazendo uma gigantesca operação de propaganda, apoiada na paixão popular pelo futebol. Mesmo assim, não está conseguindo virar a opinião pública. As pesquisas indicam que 82%  da população está contra os gastos excessivos com os estádios. Mais da metade, se pudesse decidir hoje, estaria contra a realização da Copa no Brasil.
O governo está perdendo a batalha pela consciência das massas sobre a Copa pela brutal diferença entre os gastos bilionários com os estádios e a crise na saúde, educação e transporte.
O exemplo dos garis
O governo conta também com o apoio da direção da CUT, do MST e da UNE para evitar as mobilizações durante a Copa, e impedir todo tipo de lutas salariais e populares. Conseguiu até agora evitar lutas nacionais unificadas contra os gastos da Copa. Mas não conseguiu impedir as mobilizações locais por moradias, contra as desocupações, contra a situação dos transportes (como no metrô São Paulo e o aumento da tarifa  no Rio de Janeiro) e contra os assassinatos da juventude negra pela polícia nos bairros pobres.
Não conseguiram conter também as rebeliões de base que têm marcado as mobilizações salariais, como dos motoristas de ônibus em Porto Alegre, operários da construção civil do Comperj, e agora os garis no Rio de Janeiro. Vem aí as mobilizações salariais do funcionalismo público federal e dos professores em várias partes do país.
A vitória dos garis é um símbolo. Um sinal para que os trabalhadores entrem em luta, com ou sem acordo dos pelegos que dirigem boa parte dos sindicatos do país. Os garis sentiram a fragilidade do governo com a imensa quantidade de lixo nas ruas em pleno carnaval. Mesmo com apoio da imprensa, o governo não conseguiu acabar com o apoio da população aos garis. Esse apoio foi qualitativo, porque ampliou o desgaste político do governo a cada dia de greve. Isso permitiu que apesar da repressão, a greve se mantivesse por oito dias. No final, o governo teve de recuar, aceitar a maior parte das reivindicações dos garis e suspender todas as demissões.
Existem inúmeras expressões da nova realidade política aberta no país desde junho passado. As grandes passeatas foram a forma inicial das mobilizações. Depois vieram as ocupações das Câmaras e Assembleias, ocupações de terrenos urbanos para a luta por moradia, greves radicalizadas de categorias. A greve dos garis, assim como a dos operários do Comperj, e como foi a dos professores do Rio, dos petroleiros contra o leilão de Libra, mostra como essas greves – fortalecidas pelas rebeliões de base contra as burocracias sindicais- são partes muito importantes dessa situação. E podem também ser um componente de peso na conjuntura de junho durante a Copa. Os garis são um exemplo a ser seguido.
 Mesmo com a repressão, é possível lutar é possível vencer!
Os governos apostam na repressão e montam novas táticas para impedir as manifestações, como foi no protesto em São Paulo do dia 22 de fevereiro. Nela, policiais cercaram e prenderam centenas de manifestantes. Tentam também endurecer a legislação com a lei “antiterrorista”. Uma das táticas mais importantes usadas pelos governos é associar as mobilizações à violência. Para isso se utilizam das ações dos “Black Bloc’s” e a própria repressão para intimidar as pessoas a participarem das passeatas.
Mas basta pensar no exemplo dos garis, e no que pode ocorrer durante a Copa, para chegar a uma conclusão: mesmo toda a repressão é possível lutar e vencer.
O governo não consegue mudar o repúdio da população aos gastos nos estádios enquanto segue o caos nos serviços públicos. Se as mobilizações estiverem apoiadas nesse sentimento, poderão ter um grande respaldo popular.
 O papel do Encontro
A CSP-Conlutas e outras entidades convocaram um Encontro Nacional para apoiar as lutas dos trabalhadores que estão ocorrendo agora e preparar um plano de lutas e um programa para uma ação unificada nacional em junho. Esse Encontro pode ter uma enorme importância no cenário político e construir o movimento “Na Copa vai ter lutas”.
Trata-se de preparar uma ação unificada dos movimentos sindical, popular e estudantil, com várias datas pré-determinadas que comecem desde agora até a Copa. Essa iniciativa visa dar continuidade às mobilizações de junho, se utilizando da grande visibilidade mundial dos jogos da Copa.
Esses movimentos, caso se massifiquem, podem apontar uma alternativa superior à de junho por apresentar um programa para o país e uma alternativa de direção. Mas podem também acumular forças muito importantes para o movimento. Podem levar a um passo adiante na reorganização do movimento sindical, popular e estudantil, reunindo os que lutam ao redor de um programa comum, dando uma resposta aos sindicatos governistas.
O programa que está sendo discutido visa dar resposta às reivindicações de junho. Vamos cobrar de Dilma que pare de dar dinheiro para a FIFA e para os bancos, para dar 10% do PIB para a educação pública, 10% do PIB para a saúde pública, transporte público de qualidade com tarifa zero, moradias populares, reforma agrária e lutar contra as opressões às mulheres, negros e homossexuais.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Aumento da violência machista no mundo revela o aprofundamento da barbárie capitalista

Todos os dados mostram que a maior inserção das mulheres no mundo do trabalho e no mundo escolar vêm acompanhados dos dados que mostram a desigualdade econômica entre homens e mulheres e o aumento da violência contra as mulheres


Mobilizações na Índia em 2012
As mulheres são metade da classe trabalhadora e estão cada vez mais inseridas na produção mundial. As mulheres representam hoje 51,1% da força de trabalho no mundo. Também avançou a escolarização das mulheres e em alguns países já são maioria no ensino superior, como EUA, Irã e Brasil.
Mas todos os dados que mostram a maior inserção das mulheres no mundo do trabalho e também no mundo escolar vêm acompanhados dos dados de que a desigualdade econômica entre homens e mulheres persiste e a violência contra as mulheres em todos os sentidos aumenta em todos os continentes.
O número de mulheres que vivem na pobreza é muito superior ao de homens: 70% dos pobres do mundo são mulheres. Os salários das mulheres chegam a representar 70% do total dos salários dos homens. As mulheres estão nos piores empregos, nas funções que ganham menos, nas funções terceirizadas, precarizadas e informais. A classe trabalhadora se feminizou e, ao mesmo tempo, foi empobrecida e super-explorada. 
Com a abertura de uma nova crise econômica mundial, a partir de 2008, esta situação se agravou ainda mais, com os planos econômicos de austeridade, de corte de direitos como aposentadoria e de todos os cortes e privatizações que sofreram os serviços públicos em geral como saúde e educação.Estes planos, aplicados pelos países imperialistas, resultaram em mais miséria e vulnerabilidade às mulheres da classe trabalhadora. Além disso, direitos reprodutivos como a legalização do aborto, que haviam sido conquistado na década de 70, estão sendo atacados em países como EUA, Espanha e Portugal.
As mulheres também continuam morrendo na gravidez e no parto. O índice de mortalidade materna chega a 500.000 mulheres a cada ano.Procedimentos simples como pré-natal e parto são negligenciados pelos sistemas de saúde públicos que sofrem com a falta de investimentos. Neste caso, são as mulheres trabalhadoras e pobres que morrem, pois são as que dependem exclusivamente dos sistemas de saúde oferecidos pelos Estados. No Brasil, 70% dos usuários do SUS são mulheres.
O aumento da violência machista no mundo
A recente pesquisa apresentada pela Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia (2014), uma das mais completas realizadas até agora no continente, pois registra a extensão da violência nos 28 países do bloco, aponta o dado chocante de que que 62 milhões de mulheres europeias já sofreram violência machista. Significa que uma a cada três mulheres já foram vítimas de violência física e sexual.Este dado confirma a pesquisa da Organização Mundial de Saúde, realizada em 2013, que indicava o mesmo índice, só que na escala mundial. É considerada pela OMS, uma realidade de proporções epidêmicas.
A Índia, país considerado pelo sistema econômico mundial como “emergente” no critério de desenvolvimento, talvez seja o exemplo mais gritante de como o chamado “desenvolvimento” econômico capitalista convive perfeitamente com as formas mais bárbaras de degradação humana.Lá, a cada 20 minutos, uma mulher é estuprada. Somente 1 em cada 50 casos é relatado à polícia que, na maioria das vezes, culpa a vítima. Muitas mulheres  são vítimas dos chamados estupros de gangue, em que vários homens atacam ao mesmo tempo. 
O caso de Nirbhaya, a estudante de 23 anos que foi estuprada por seis homens em um ônibus de Nova Déli, em dezembro de 2012, ganhou repercussão mundial pela onda de protestos que gerou no país e pelo grau de barbárie. Porém, no cotidiano, os estupros e mortes continuam ocorrendo sem que o governo tome medidas efetivas de combate.
Na Índia, ainda existe o casamento por dotes, no qual os pais, para casar as filhas, precisam pagar um dote aos futuros maridos. Em 2012, houve 8.618 "mortes por dote", ou seja, assassinatos de mulheres quando não há pagamento do dote ou o valor é considerado muito baixo e o homem quer casar de novo e obter um dote maior.
Mas além dos estupros seguidos de assassinatos, as agressões sexuais são constantes e são julgadas como crimes de menor gravidade por não envolverem a penetração (No Brasil, a legislação mudou desde 2009 para a consideração de estupro qualquer ato sexual não consentido, independente de ocorrer a penetração). Práticas comuns de humilhação de mulheres na Índia, como jogar ácido no rosto e despir e bolinar mulheres em público, são "ultraje à decência", considerados de menor gravidade e com pena de apenas dois anos. Foi assim o caso de uma menina de 16 anos que foi despida por dez homens que desfilaram com ela nua e a bolinaram em público.
A culpabilização das mulheres vítimas de violência é o que chama mais atenção, tanto vinda do próprio governo quanto por religiosos como o guro Asaram Bapu que disse que a mulher violentada deveria ter chamado os agressores de irmãos e implorado para que eles parassem.
No Brasil, os estupros também aumentaram. De acordo com o estudo-produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com base em informações do IBGE e do Ministério da Justiça, o país registrou 50.617 casos de estupros em 2012, o que equivale a 26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes. O aumento é de 18,17% em relação a 2011, quando a taxa foi de 22,1 por grupo de 100 mil.
O Brasil é o 7º país em índices de feminicídio. Morrem 15 mulheres por dia, vítimas da violência machista, sendo que a 2 minutos uma mulher é espancada. Os dados mostram que esta violência aumenta. Em 1980, eram 2,3 morte para cada 100 mil e, em 2010, foram 4,6 mortes para 100mil, segundo o Mapa da Violência. A maioria destas mortes ocorrem no ambiente doméstico.
O turismo sexual e o tráfico humano também é uma forma corrente de exploração e de violência contra as mulheres no mundo. Cerca de 200.00 adeptos do turismo sexual, vasculham países pobres em busca de corpos baratos de mulheres e de crianças. Por trás, estão poderosas organizações criminosas.
Se os dados da violência, com muita dificuldade, são possíveis de serem quantificados, as sequelas e consequências psicológicas que o aumento da violência gera entre as mulheres é impossível de calcular. As mulheres perdem a confiança em si mesmas, sofrem de depressão, ataques de pânico e ansiedade, sentimentos de culpa e vergonha, além de produzir o medo de andarem nas ruas e de ocuparem os espaços públicos.
Enquanto aumenta a violência contra as mulheres, a política do imperialismo, através dos organismos internacionais como a ONU, é o discurso vazio do empoderamento das mulheres. Enquanto a ONU recomenda milhares de “receitas democratizantes” para a igualdade, para que as mulheres conquistem mais postos de trabalho e de chefia da sociedade, a política econômica do imperialismo continua sendo a de massacrar os povos do mundo com a dependência econômica dos países e a sucção das riquezas para os grandes bancos e corporações internacionais.
A ONU abriu, neste dia 09 de março, em comemoração ao dia da mulher, a 58ª Comissão sobre o Status da Mulher (CSW) que fará uma avaliação até 2015 se a Plataforma de Ação de Pequim (realizada em 1995) está dando resultados. É comum se utilizarem de alguns poucos dados positivos como o aumento da escolaridade ou o acesso ao mercado de trabalho, para mascarar a realidade que aponta para a piora da vida das mulheres, principalmente as pobres e trabalhadoras. Até lá serão muitos os discursos e eventos que tentarão iludir o mundo de que as condições das mulheres está melhorando.
Infelizmente, o imperialismo conta com aliados para a aplicação de suas políticas, como o governo Dilma no Brasilque faz o discurso da igualdade para as mulheres, mas prioriza a Copa da FIFA em detrimento dos investimentos para a aplicação e ampliação da Lei Maria da Penha. Além disso, Dilma mantém em sua base de apoio grupos religiosos fundamentalistas que defendem o “Estatuto do nascituro”, a “cura gay” e outras leis que atacam ainda mais os direitos das mulheres e LGBTs. 
O que vemos é o aumento da contradição entre a sanha capitalista, que por um lado se aproveita da entrada em massa das mulheres no mercado de trabalho e no mercado consumidor para aumentar a exploração e o lucro e, por outro lado, a perpetuação da ideologia machista seja com as instituições conservadoras como as igrejas, ou com roupagens mais modernas, como a teoria do empoderamento e da multimulher que é capaz de se desdobrar em três para garantir o sustento da casa e o bem estar dos maridos.
Mas esta contradição gera cada vez mais reação das mulheres trabalhadoras no mundo. As mulheres são hoje parte da vanguarda da classe trabalhadora que se levanta em vários países, seja nas revoluções democráticas como no Egito, seja contra os ataques aos direitos na Europa, seja contra os estupros na Índia (que se converteu em uma luta de massa), ou no Brasil, quando nas grandes mobilizações de junho, eram 50% dos manifestantes. São as mulheres também que em todas as categorias profissionais, seja nos serviços públicos em que são maioria, mas também na classe operária, têm estado nas greves e mobilizações por salários e por direitos em várias partes do mundo.
As mulheres trabalhadoras carregam a história de em situações revolucionárias terem sido muitas vezes as precursoras dos grandes levantes das massas. Não é por menos, se são as mulheres as que mais sofrem com as mazelas do capitalismo, também são elas as que muitas vezes se levantam primeiro. Foi assim que, em 23 de fevereiro de 1917 (08 de março no calendário ocidental), as mulheres tomaram as ruas de Petrogrado e acenderam a faísca da revolução russa.
Neste momento, em que a maioria dos movimentos feministas, mesmo os considerados de esquerda são cooptados pelo reformismo, e que o discurso predominante é de que as revoluções não são mais necessárias, afinal a vida das mulheres pode melhorar no capitalismo, é fundamental que escancaremos a realidade cada vez pior das mulheres pobres e trabalhadoras, assim como nos juntarmos a todas as lutas das mulheres como parte da luta geral da classe trabalhadora pela emancipação socialista.