quinta-feira, 17 de abril de 2014

Venezuela: A quem serve a Conferência Nacional da Paz?

Conferência Nacional pela Paz: a quem serve este diálogo?
Escrito por UST - Venezuela   

Foi realizada, em Miraflores, a Conferência Nacional pela Paz. Os principais empresários do país e suas organizações estiveram presentes: Fedecâmaras, Conindústria e Consecomércio. Também participaram vários representantes da MUD e da oposição, Wills Rangel, pela CBST, governadores e dirigentes do PSUV, a Igreja Católica e outros cultos, artistas e intelectuais, ministros e jornalistas. E o presidente Nicolás Maduro.

Os países do Mercosul, a Unasul, apoiaram o governo Maduro e o diálogo, vem como os EUA e a União Européia. Todos se referiram à necessidade de diálogo e consenso.

Crise econômica e insatisfação generalizada
A crise econômica está entrando em cheio na Venezuela. A PDVSA e o governo devem utilizar cada vez mais dólares para pagar dívidas contraídas no exterior. Uma imensa quantidade de dólares escoa para a especulação e não para a produção. Os setores populares sentem a cada dia a escassez dos produtos de primeira necessidade e os baixos salários. Há uma grande insatisfação em um setor importante da população. Não são somente os estudantes de classe média que protestam. No ano passado, uma longa luta dos professores universitários mostrou um grande descontentamento em um setor que há muito não se mobilizava. Os trabalhadores da SIDOR e os petroleiros lutaram muito. Houve lutas dispersas em outras cidades. A mobilização estudantil, dirigida por setores da direita, não fez nada além de capitalizar esse descontentamento generalizado.

Crise no governo e na MUD
Esta crise impôs um “dialogo” que o governo não queria. Hoje está aceitando negociar as exigências de empresários e oposição. Vilna Mora, governador oficialista de Táchira, manteve posições contra a repressão, mas logo baixou o tom das críticas. No Grande Pólo Patriótico, o clima também é tenso.

A MUD tampouco aparece unificada e Capriles, que num primeiro momento, se afastou dos “violentos” e aceitou o diálogo, logo não compareceu ao encontro porque “o governo deveria dar sinais, tendo de ceder diante das pressões dos estudantes, que exigem a liberação dos presos. Mas prefeitos, deputados e o governador Henry Falcón sim compareceram, junto com o MAS em Miraflores.

A crise se torna mais aguda, já que há 30 dias do início do processo de mobilização, o governo não consegue desarticular o movimento, nem com repressão. Abriu-se um impasse, e, por enquanto, o governo não consegue controlar totalmente a situação.

O que querem os empresários?
Nessa reunião, Lorenzo Mendoza, um dos principais empresários do país, exigiu a formação de uma comissão pela “verdade econômica”, que o governo aceitou e já está funcionando. Também pediu o pagamento da dívida da CADIVI com os empresários e entrega de divisas. Aumento dos preços regulados e modificação da LOTT devido ao “absentismo crescente”. Pérez Abad, boliburguês, disse que “o socialismo não pode ser construído sem a participação dos empresários privados” (sic). Todos defendem medidas para liberalizar o mercado.

Qual o objetivo do “acordo de paz”?
Que líderes da oposição apareçam em cadeia nacional, junto com chavistas e empresários, fazendo críticas e “exigindo mudanças profundas”, mostra um governo debilitado em sua relação com os trabalhadores e o povo.

As mobilizações estudantis se estenderam a outros setores, sobretudo os bairros. Nos locais de trabalho, o “ambiente” é cada vez mais tenso contra o governo. Surgem trabalhadores repudiando a violência, mas concordando que “assim não pode continuar”. Outros dizem: “Eu sou chavista, mas este governo não me representa”. O problema da escassez, as longas filas para conseguir farinha ou açúcar e a inflação podem levar a uma explosão popular que todos eles querem evitar.
Nesse marco, o diálogo tem vários objetivos: por um lado, os empresários passam à ofensiva para descarregar a crise sobre os trabalhadores. O governo, por sua vez, tenta se recuperar dessa crise tratando de obter um consenso político e social que lhe permita continuar governando sem sobressaltos, ao mesmo tempo que aceita aplicar medidas antipopulares. A MUD quer aproveitar a crise do chavismo para aparecer como uma alternativa, mesmo sabendo de suas limitações para dominar o conjunto das massas; ataca e obriga o governo a ir mais à direita (com repressão, medidas antipopulares etc.). Mas todos pretendem chegar à maior quantidade de acordos possíveis para evitar uma explosão geral, enquanto já começam a aplicar o arrocho de preços e a entrega de dólares.

Repúdio ao pacto contra os trabalhadores
A conferência de paz tem como objetivo central obter um verdadeiro “pacto” entre o governo e a patronal, para tentar passar medidas de arrocho. Por isso, não dialoga com os trabalhadores! Devemos, portanto, denunciá-lo e enfrentá-lo com a mobilização e a luta. Precisamos construir uma alternativa classista e um programa para resolver os problemas do país do ponto de vista da classe trabalhadora e setores populares, e não da burguesia e o governo.

Tradução: Cecília Toledo

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