terça-feira, 9 de setembro de 2014

Como devem ser financiadas as Campanhas eleitorais?

No dia 07 de Setembro, no Grito dos Excluídos em Congonhas, dois materiais impressos apareceram e foram distribuídos gratuitamente para os presentes: um era o boletim "A Voz dos Mineiros", do sindicato Metabase Inconfidentes, e o outro o jornal "Brasil de Fato" de Minas Gerias. Coincidentemente, ambos traziam uma matéria sobre o financiamento de campanha.

No  panfleto A Voz dos Mineiros (que lincamos abaixo), uma matéria sobre o financiamento de campanha trazia a quantidade de dinheiro que a Vale e CSN haviam dado para os grandes partidos (PT, PSDB, PMDB, PSB, entre outros) e demonstrava como, a partir deste vinculo, as empresas dominavam a política nacional e, independentemente de quem ganhasse, garantiam que seus interesses fossem defendidos.

No final da matéria, corretamente o panfleto dizia-se orgulhoso pelo fato do diretor do sindicato, Valério Vieira, ter se desincompatibilizado para se candidatar e financiar sua campanha exclusivamente com o apoio de trabalhadores, estudantes e militantes do seu partido.

A matéria que saiu no Brasil de Fato MG sobre o financiamento de campanha (e que também lincamos abaixo para que cada um forme sua opinião) é uma vergonha.
A matéria, em um tom jornalístico e asséptico, começa por explicar que “A campanha eleitoral, embora dure um curto período,  é um processo que demanda grande volume de recursos.” Logo em seguida diz: “Os partidos e os candidatos custeiam o período eleitoral através de financiamento.”

Ou seja, as campanhas custam dinheiro, o que é verdade, e para resolve-lo os candidatos buscam financiamentos, o que também é verdade. E como os candidatos se financiam? candidamente a matéria explica que “Os recursos para as campanhas eleitorais podem vir dos próprios candidatos ou partidos; da comercialização de bens e serviços ou da promoção de eventos; de doações de pessoas físicas, limitadas a 10% dos rendimentos brutos do doador no ano; e doações de pessoas jurídicas, limitadas a 2% do faturamento bruto do ano anterior à eleição, entre outros”. No parágrafo seguinte explicam que: “Como a campanha eleitoral exige um grande volume de recursos, acabam se beneficiando aqueles candidatos que têm maior capacidade de arrecadação.”
Para concluir o show de bizarrices, a matéria dá dicas de como acompanhar as contas dos candidatos e que se deve denunciar caso encontre irregularidades.

Não se encontra na matéria do Brasil de Fato nada que se compare a uma denúncia implacável contra os partidos que se beneficiam deste tipo de financiamento, nem tão pouco das relações pra lá de espúrias entre financiadores e financiados. No máximo, em um parágrafo no mesmo estilo asséptico, vem a tímida constatação de que as empresas veem as doações como um investimento.

É de se perguntar por que o jornal Brasil de Fato não diz as coisas como elas devem ser ditas. Por exemplo, que o PT é hoje o maior arrecadador de financiamento junto às grandes empresas. Que até as ultimas eleições recebeu milhões de bancos como o Itau ou de empresas como a Vale. Também causa estranheza que a única medida proposta pelo jornal seja que os eleitores fiscalizem as contas dos candidatos e denunciem.

Na opinião do Brasil de Fato, um político financiado pelos grandes bancos e corporações vai depois governar ou exercer seu mandato a serviço de quem? Ou as empresas que financiam ano após ano, eleição após eleição os mesmos candidatos fazem investimentos inúteis perpetuamente?

Por fim, não reivindicarem a história do movimento operário, e inclusive do próprio PT, que em suas origens se financiava com dinheiro de seus militantes e simpatizantes; não dizer que é possível fazer campanhas eleitorais de outra forma e não defender a independência financeira dos partidos e organizações operarias é dar ao leitor menos experiente a sensação de que não se pode fazer de outro jeito. É deseducar e validar a prática dos grandes partidos que recebem dinheiro das grandes empresas e que uma vez eleitos governam para elas.

Nós acreditamos que as coisas são de outra forma. Uma candidatura operária e popular pode e deve buscar seu financiamento junto aos trabalhadores e à juventude. Somente com absoluta independência financeira uma candidatura poderá levar até o fim a defesa dos interesses dos trabalhadores.

Uma organização política que em nome de conquistar mais mandatos aceita ser financiada por patrões e empresários, inevitavelmente passará a defender os interesses de seus financiadores para ter mais “viabilidade eleitoral”. Infelizmente, o Brasil de Fato não passou no primeiro critério de participação nas eleições: o da defesa intransigente da independência de classe.

De nossa parte, seguimos dizendo o mesmo de sempre. Não votem nos políticos e partidos financiados pelas grandes empresas. Uma vez eleitos eles governarão contra os trabalhadores a juventude e o povo e a favor de seus financiadores!


Um comentário:

  1. O texto em questão se trata do Guia do Eleitor Cidadão, cuja proposta é trazer informações sobre o funcionamento do processo eleitoral.
    Sugestão de leitura, matéria: http://www.brasildefato.com.br/node/29214

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